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Como a musicoterapia pode ajudar na saúde mental?

O conflito de gerações, tendo como pano de fundo o movimento hippie, a guerra do Vietnã e o rock’n’roll em plena década de 1960, afasta o jovem Gabriel de seus pais, Henry e Helen Sawyer. 

Passaram-se cerca de 20 anos sem qualquer contato, quando eles recebem um telefonema, avisando que o filho estava no hospital. Um tumor cerebral, apesar de benigno, coloca Gabriel em estado catatônico e o impede de guardar novas memórias. 

Esse é o enredo do filme A Música Nunca Parou, que mostra o poder da música na reabilitação. O caminho da família Sawyer não é fácil, mas a música acaba com o abismo existente e trata as feridas do passado, reconectando pai e filho.

Trazemos a você a indicação desse emocionante filme como forma de comemorar o Dia Internacional da Música, neste 1º de outubro. A música – seja ouvir ou tocar um instrumento – beneficia as frequências cardíacas e respiratórias. E tem se mostrado eficaz em pacientes com transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade. 

Musicoterapia e a saúde mental

Portanto, a música é uma grande aliada à saúde mental, e isso  não é novidade. Na Antiguidade, na época do filósofo Platão, considerava-se que a música dava ânimo e potencializava virtudes do corpo e do espírito, mas tinha um tom de purificação do corpo, colocando-o em harmonia com o cosmo.

Já a música como proposta terapêutica começou em 1944, nos Estados Unidos. A defesa era de que curava a “neurose” daqueles que voltavam da Segunda Guerra Mundial. 

No Brasil, a musicoterapia foi inserida em 1968, quando o músico, psiquiatra e psicanalista argentino Rolando Benenzon, ministrou o primeiro curso no tema. A Prática Clínica da Musicoterapia Brasileira foi iniciada nos anos 1980, nas áreas da educação especial e da saúde mental, principalmente junto a pacientes autistas.

Os benefícios para quem sofre de Parkinson

A musicoterapia tem sido indicada para tratar várias doenças que comprometem as funções motoras e cognitivas. Entre elas, destacamos a doença de Parkinson, a qual, segundo a Organização Mundial de Saúde, atinge 1% da população mundial com mais de 65 anos. No Brasil, não há números oficiais, mas estima-se que sejam cerca de 200 mil pessoas que sofrem com a doença.

De acordo com o Hospital Israelita Albert Einstein, o Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central. Ela é crônica e progressiva. Nela, ocorre uma redução drástica na produção de dopamina, neurotransmissor que está por trás do controle dos movimentos musculares.

Entre os principais sintomas parkinsonianos, que variam muito de paciente para paciente, estão: 1) lentidão nos movimentos; 2) rigidez nas articulações em algumas regiões, como ombro, cotovelo, punho, coxa e tornozelo; 3) tremores nos membros superiores, mais notados nas extremidades das mãos; e 4) desequilíbrio.

O site do Dr. Drauzio Varella aponta outros sintomas, destacando “a diminuição do tamanho das letras ao escrever” como uma característica importante. Ele cita ainda: distúrbios da fala, dificuldade para engolir, depressão, dores, tontura, e distúrbios do sono, respiratórios e urinários.

Não se sabe exatamente as causas, conforme consta no site do Dr. Varella. Entretanto, como a incidência aumenta com o avanço da idade, o envelhecimento aparece como principal fator, mas não deve ser o único já que nem todos os idosos sofrem desse mal. Várias pesquisas apontam para outros fatores desencadeantes, como genéticos e ambientais.

Pesquisas comprovam os benefícios

De qualquer modo, a relação entre a música e pacientes com Parkinson tem sido largamente estudada em todo o mundo.As conclusões tiradas de várias pesquisas e casos clínicos levam a crer que a musicoterapia auxilia os pacientes com Parkinson em vários sentidos. Entre os pontos de melhoria, estão as funções físicas e mentais afetadas pela doença; a expressão oral e escrita; a autonomia; a compreensão sobre seu sofrimento causado pela doença; a sociabilidade, que impacta na saúde mental como um todo.

Em 2019, a Gerontologia da USP divulgou uma pesquisa, a qual investigou o efeito da musicoterapia nas relações familiares conjugais, englobando pacientes de Alzheimer e seus respectivos cônjuges que exerciam o papel de cuidadores. O autor do estudo, o musicoterapeuta e mestre em Gerontologia Mauro Amoroso Pereira Anastácio Júnior, utilizou canções que eram significativas na história dos casais.

Como resultados, a musicoterapia trouxe lembranças da vida dos casais, amenizam sintomas relacionados à demência, como a agitação, e ainda promoveu melhor qualidade de vida para o cuidador.

Caso emblemático

Alguns casos reais, descritos por médicos, chamam a atenção. Merece destaque o neurologista britânico Oliver Sacks, autor de alguns livros, inclusive de Um Antropólogo em Marte, do qual um dos capítulos inspirou o filme A Música Nunca Parou. Durante sua vida, ele fez relatos incríveis.

Em 1999, por exemplo, Sacks falou durante um evento de musicoterapia que usava a música para tratar pessoas com Doença de Parkinson, porque percebia que a música era uma arte para despertar o paciente – aliás, o filme Tempo de Despertar foi baseado no livro homônimo de Sacks. 

O neurologista filmava algumas sessões de musicoterapia, com o paciente sendo simultaneamente monitorado pelo eletroencefalograma (EEG).  “Tenho um fascinante registro desse tipo de um de meus doentes, que sofre de acinesia de um lado do corpo, e de frenesi no outro (qualquer medicação benéfica para um lado agrava o outro), e cujo EEG é correspondentemente assimétrico. Esse homem é um exímio pianista e organista; no momento em que ele começa a tocar, seu lado esquerdo deixa de manifestar acinesia, o lado direito para com os tiques, e ambos passam a funcionar em perfeita união. Simultaneamente, a gritante dicotomia, os padrões patológicos do EEG desaparecem, observando-se em seu lugar apenas a simetria e a normalidade. No momento que ele para de tocar, ou que sua música interior cessa, decompõem-se tanto o estado clínico quanto o EEG”, revelou durante o evento.

Esse é apenas um dos vários casos descritos de forma entusiasmada por Sacks, que faleceu em 2015 aos 82 anos. Mas ele deixou suas memórias registradas, enaltecendo o poder que a música tem sobre nossa mente.

Fontes:
https://portal.estacio.br/media/4681209/musicoterapia-na-doen%C3%A7a-de-parkinson.pdf
https://www.einstein.br/doencas-sintomas/parkinson
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/doenca-de-parkinson/
https://recordtv.r7.com/fala-brasil/videos/cientista-brasileiro-garante-que-musica-pode-ajudar-no-tratamento-do-mal-de-parkinson-06102018
http://www.blog.saude.gov.br/34589-doenca-de-parkinson
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/musica-ameniza-sintomas-de-demencia-em-idosos-com-alzheimer/


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