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Impacto das redes sociais na saúde mental

“O homem, muito mais que a abelha ou outro animal gregário, é um animal social.”

Essa é uma das famosas frases do filósofo grego Aristóteles, que viveu de 384 a 322 antes de Cristo. Para ele, “ninguém escolheria a posse do mundo inteiro sob a condição de viver só, já que o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade”. Mais do que isso, ele defendia que, para alcançar a plenitude, uma pessoa necessita do convívio com outras.

Da época da Grécia Antiga para cá, muita coisa mudou, mas o “viver em sociedade” foi mantido e até reforçado. O que antes era limitado geograficamente ganhou dimensão global. Ou seja, continuamos a ter acesso a relações com nosso vizinho, mas também podemos ter amigos do outro lado do mundo.

Isso graças às redes sociais, sendo o Orkut, lançado pelo turco Orkut Büyükkökten em 2004, o primeiro que teve sucesso no Brasil. 

São as redes sociais que nos permitem estar em contato com o antigo colega da escola, com o amigo que mudou do país, com a família que mora em outra cidade ou estado e até com quem nunca nos encontramos, os chamados “amigos virtuais”.

Necessidade de pertencimento

Também seguimos alguns, somos seguidos por outros, fazemos parte de grupos que, de alguma forma, agrega algo para nossa vida. Não raro satisfaz a “necessidade de pertencimento”, termo cunhado pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow. 

Para ele, as pessoas são seres sociais que têm uma necessidade de pertencer a um grupo, de amar os outros e de ser amados. Só assim a autoestima se desenvolve de forma adequada.

Entretanto, nem tudo são flores, e há o outro lado da moeda. Como sempre, tudo o que é demais pode ser prejudicial. E pesquisas apontam os males à saúde mental que podem ser causados pelo excesso de tempo nas redes sociais.

A American Psychiatric Association (APA) realizou em 2019 uma pesquisa com 1.005 adultos nos Estados Unidos para saber como viam a influência das redes sociais no bem-estar mental e emocional. Confira os principais resultados:

  • O impacto da mídia social na saúde mental é prejudicial para 38% dos entrevistados; tem lado positivo e lado negativo para 45%; e é positivo para apenas 5%.
  • O uso de mídia social está relacionado a sentimentos de solidão e isolamento social para 67%.
  • A atividade nas redes sociais entre crianças e adolescentes é preocupante para 88% dos adultos entrevistados.
  • Algum aplicativo de mídia social para apoiar a saúde mental é usado por 14% dos adultos, mais intensamente pela geração millenials (24%) do que pelos baby boomers (3%).

“Esses resultados refletem a preocupação dos americanos com o uso da mídia social e seus potenciais impactos negativos”, disse o presidente da APA, Altha Stewart. “Embora a mídia social possa ter benefícios e nos ajudar a manter-nos conectados a amigos e familiares, é importante para adultos, crianças e adolescentes equilibrarem o uso da mídia social com outras atividades e se conectarem com outras pessoas na vida real.”

Estudo britânico

“Dizem que as mídias sociais viciam mais os adolescentes do que o cigarro e o álcool”, escreveu o médico cancerologista Dr. Drauzio Varella em seu site, em setembro de 2020, depois de analisar o estudo #StatusOfMind, realizado em 2017 pela Royal Society for Public Health (RSPH), junto a 1.479 pessoas de 14 a 24 anos do Reino Unido. 

Nesse estudo britânico, a CEO da RSPH, Shirley Cramer, escreveu: “A mídia social se tornou um espaço no qual formamos e construímos relacionamentos, moldamos a autoidentidade, nos expressamos e aprendemos sobre o mundo ao nosso redor; e está intrinsecamente ligada à saúde mental”.

Ansiedade e depressão

A pesquisa informa que a taxa de ansiedade e depressão aumentou 70% no decorrer de 25 anos e conclui que a mídia social está relacionada com o aumento das taxas de ansiedade, depressão e sono insatisfatório.

“As plataformas foram bem avaliadas nas questões referentes à autoidentidade, à autoexpressão, ao fortalecimento de laços comunitários e ao amparo emocional”, contou o Dr. Varella.

Quanto aos malefícios, destacaram-se os quesitos: qualidade do sono, bullying, imagem corpórea, necessidade de se manter conectado por medo de perder experiências vividas pelos amigos, depressão e ansiedade.

O Dr. Varella destacou em seu artigo que “é interessante que Snapchat e Instagram, duas plataformas centradas na imagem, tenham sido consideradas as mais nocivas. A autoimagem é um aspecto ligado a sentimentos de inadequação, depressão e de ansiedade, muito prevalentes nessa fase da vida”.

Vale ressaltar que YouTube foi apontado pelos jovens como o mais positivo para a saúde mental e bem-estar.

Os dados dessas e de outras pesquisas são preocupantes, mas foram realizadas antes de sermos assolados pelo novo coronavírus. 

As redes sociais ganharam ainda maior dimensão durante a pandemia de Covid-19, em razão do aconselhado isolamento social. Tem sido um alento poder estar em contato, mesmo que virtualmente, com as pessoas queridas. 

Durante esse tempo, as pessoas têm passado ainda mais tempo na internet, nas redes sociais e nos aplicativos de bate-papo. Entretanto, ainda não existem estudos que comprovem oficialmente quais os impactos dessa mídia na saúde mental, mais fragilizada pelo momento em que vivemos atualmente. 

Dicas em prol da saúde mental

Pare por um momento e reflita: quase tudo o que você vê de “seus amigos” nas redes sociais, principalmente naquelas em que a imagem é o foco, são os momentos perfeitos: a viagem, o encontro no bar ou no restaurante, a festa de aniversário, a pele ou o corpo perfeito após uma dieta ou um procedimento milagroso e por aí vai. 

A tendência qual é? O espectador comparar suas experiências àquelas imagens postadas, as quais aliás nem sabemos se não passaram por um fotoshop. 

Por outro lado, é também pelas redes sociais que há a propagação de fake news, discursos de ódio, comentários negativos… Resultado: um sentimento de desconforto e/ou insegurança.

A saída para proteger nossa saúde mental é usar os devices eletrônicos com sabedoria. Tente estabelecer tempo limitado para entrar nas redes sociais, e silencie o celular em outros momentos. Experimente um “detox”, passando um dia ou um fim de semana sem acessar a internet.

Depois disso, tente perceber se sua ansiedade ou depressão foi impactada.

Além disso, determine um horário para sair do computador ou de mexer no celular à noite, antes de ir para a cama, porque eles afetam negativamente o sono. Noites bem dormidas são grandes aliadas à saúde mental.

Outra dica é procurar identificar as fontes “tóxicas” de conteúdo, ou seja, aquilo que faz você se sentir para baixo. E reavalie se vale a pena se manter conectado a essa toxidade.

A nutricionista Marcela Kotait, em artigo no site Catraca Livre, propõe uma estratégia para reduzir os efeitos negativos provenientes do uso de redes sociais: “unfollow positivo”.

Ela recomenda que as pessoas adotem uma postura mais ativa contra o que nos causa mal. “Ou seja, fazer ‘uma limpa’ em todos os perfis tóxicos, deixando de segui-los”, escreveu.

Por atuar com nutrição, Marcela destaca, entre esses perfis, aqueles que defendem chás e suplementos milagrosos, cujos resultados para quem testar vão desapontar, assim como blogueiras e influenciadores que expressam felicidade e glamour irreais.

Ela conclui seu artigo com a seguinte mensagem: “Com essa faxina nas redes, com certeza sua vida se tornará mais leve e saudável. Os gatilhos para as insatisfações diminuirão, e a disponibilidade para novas conexões com o mundo real e pessoas reais será ampliado. Pense em um Ano Novo melhor com uma nova prática nas redes sociais. A mudança está à distância de um clique e só depende de você!”

Fontes:

https://www.culturagenial.com/o-homem-e-um-animal-politico/

https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/midias-sociais-e-saude-mental-artigo/

https://www.rsph.org.uk/our-work/campaigns/status-of-mind.html

https://www.psychiatry.org/newsroom/news-releases/americans-are-concerned-about-potential-negative-impacts-of-social-media-on-mental-health-and-well-being

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