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Saúde mental infantil: como cuidar do bem-estar das crianças?

As crianças são nosso maior tesouro. Quando passam os dias sentindo bem-estar, a saúde mental delas é reforçada. Isso é importante porque é na infância que se constroem os alicerces para uma vida saudável na fase adulta.

Mas como podemos cuidar do bem-estar e da saúde mental dos pequenos? Primeiramente é bom entender como funciona o cérebro das crianças e adolescentes.

O pedadogo Anderson Luiz Araujo, consultor educacional da Escola da Inteligência (metodologia que visa a educação socioemocional), explica de forma bastante didática no Blog da empresa: “Vamos imaginar o nosso cérebro como uma casa que possui dois andares”.

No andar de baixo, diz ele, está a parte mais primitiva do cérebro, onde ficam as emoções, como raiva e medo. A parte mais desenvolvida fica no andar de cima, onde ocorrem os pensamentos complexos, as reflexões e as tomadas de decisão. 

O primeiro andar já está pronto na criança. Já o segundo andar é o que mais demora para ser construído, segundo Araujo, completando que o cérebro fica completamente maduro depois dos 21 anos de idade.

Cabe aos adultos ajudar a construir o segundo andar, garantindo ainda que a criança consiga ter as melhores conexões entre os dois andares.

Quanto mais cedo ensinarmos as nossas crianças a reconhecerem e refletirem sobre as suas emoções, melhor será o resultado da construção cerebral, e com certeza ao final da obra teremos uma casa muito mais estruturada e eficiente, teremos um adulto capaz de gerir seus pensamentos e emoções”, escreveu o pedadogo.

Como agir em prol da saúde mental infantil

Infelizmente, como dizem popularmente, a criança vem ao mundo sem um manual de instruções; e sempre é um desafio saber o limiar entre o que é mimar, educar e traumatizar, não é mesmo? Os especialistas em comportamento e na mente infantil, no entanto, dão algumas diretrizes.

Diante de uma birra da criança, por exemplo, o adulto não deve ceder, caso contrário ela vai repetir o comportamento sempre que desejar alguma coisa, porque ela percebe que assim ela consegue.

E não adianta, nessa hora, explicar o porquê do “não” de forma racional, de acordo com Araujo, porque nessa fase a criança ainda é só emoção. 

Então, espere que ela se acalme e busque uma conexão emocional, valorizando o sentimento dela naquele momento. A ideia é fazer a criança entender o que a levou àquele comportamento.

Estresse tóxico

Indo além, para garantir uma boa saúde mental durante a infância, é fundamental evitar o que os especialistas chamam de “estresse tóxico”. 

Momentos de estresse fazem parte da vida de todos, e alguns até são necessários para o amadurecimento. Porém, ele é tóxico, conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), quando o episódio é muito forte ou ocorre repetidamente. 

Aqui entram violência física ou verbal, dificuldades financeiras da família, problemas de relacionamento com familiares, assim como com professores ou colegas, falta de carinho, ausência dos pais, excesso de atividades, entre outros.

“A formação da arquitetura cerebral ocorre nos primeiros anos de vida e vai ser o alicerce para todas as outras aquisições ao longo dos anos. Um neurônio se conecta a outro e, nessa fase, as conexões são muito aceleradas. O estresse tóxico prejudica o potencial mental e até reduz o volume cerebral”, disse a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo, da SBP, para o portal GaúchaZH.

Vera Zimmermann, psicóloga da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca a importância de rotinas até para um bebê, por exemplo para comer, dormir, tomar banho. Sem isso, há atraso “em estabelecer as relações de causa e efeito, o que desorganiza a base de pensamento de tempo e espaço e traz prejuízos mais tarde”.

Além da falta de rotina, devemos também impor limites para crianças de todas as idades do tempo dedicado à frente de telas de celular e computador, além de incentivar a prática esportiva, a alimentação balanceada e bons hábitos de sono.

Sinais de alerta

Já que algum estresse faz parte inerente da vida, é preciso ficar atento a alguns sinais de alerta que podem indicar algo com maior seriedade.

Quando uma criança fica apática ou irritada, não quer brincar, perde a fome, algo está errado se nenhuma situação fora do habitual aconteceu, como mudança de escola ou a morte de um parente. Também merece atenção quando ocorrem distúrbios do sono, falta de equilíbrio, baixa imunidade.

Procure ajuda profissional diante desses sintomas. Dependendo do problema de saúde mental, a criança pode desenvolver transtornos de depressão ou de ansiedade, que devem ser tratados.

Dependendo da gravidade e das causas, há riscos de prejuízo à capacidade cerebral, assim como de surgirem transtornos psiquiátricos graves e outras doenças, como diabetes e hipertensão.

E na adolescência?

Essa é a fase de amadurecimento e crescimento intelectual. O adolescente, naturalmente, busca pelas novidades, pelo engajamento social, pela exploração criativa e ainda experimenta um aumento de intensidade no seu emocional.

Durante a adolescência, para evitar o distanciamento com as pessoas mais velhas, como acontece frequentemente, os pais devem buscar se conectar ao filho. Araujo indica, por exemplo, propor passeios diferentes para fazerem juntos; incentivar que o jovem faça um trabalho voluntário e atividades criativas.

Além disso, é importante desenvolver a empatia, para estreitar os vínculos. A principal dica é que os pais mudem seu olhar demasiadamente crítico e passem a elogiar mais, porque isso reforça a capacidade do adolescente e aumenta sua autoestima. Como consequência, isso gera uma maior aproximação entre pais e filhos.

Saúde mental infantil na pandemia

Não poderíamos deixar de abordar o atual momento que vivemos. Por conta do isolamento social, a tarefa de cuidar do bem-estar das crianças ficou ainda mais desafiadora, em razão de todas as consequências e incertezas causadas pela pandemia de Covid-19. 
Afinal, todos estão mais estressados do que de costume, medos vieram à tona, sem contar aqueles que perderam entes queridos e os que ficaram desempregados.

“A atual pandemia e todo o contexto que a acompanha chegam aos cérebros das crianças por meio de informações, por meio de emoções de seus pais e outros adultos significativos, pelas mudanças da rotina e do ambiente ao longo do tempo”, detalhou para o Jornal da USP Guilherme V. Polanczyk, professor associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

E Polanczyk continua: “Os pais, que são protagonistas no desenvolvimento dos seus filhos, poderão reconhecer os sinais de estresse, processá-los e retransmitir às crianças respostas que geram acolhimento, segurança e aprendizado, estabelecendo um ciclo positivo”. 

O papel dos adultos que convivem com crianças, portanto, passa a ter ainda mais importância. Dialogar, ouvir, apoiar e dar afeto são as estratégias que devem ser reforçadas neste período. 

O que não pode é dar respostas para as crianças que gerem ainda mais medo e insegurança ou, então, que elas se sintam desamparadas. Isso vai gerar o que Polanczyk chama de “ciclo negativo”. Ou seja, tudo ocorre como uma bola de neve, para o bem ou para o mal.

Fontes:
www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/saude-mental-infantil-como-cuidar-do-bem-estar-emocional-das-criancas/
www.jornal.usp.br/artigos/o-custo-da-pandemia-sobre-a-saude-mental-de-criancas-e-adolescentes/
www.escoladainteligencia.com.br/como-o-cerebro-do-seu-filho-funciona/
www.revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2017/06/estresse-toxico-entenda-o-que-e.html
www.gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2018/06/saude-mental-infantil-como-cuidar-do-bem-estar-emocional-das-criancas-cji67wmxa0es701qo79bq3act.html

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