Muitos pensam que só adulto sente depressão, mas isso não é verdade. “Criança também sofre de depressão.” Essa informação consta no site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O transtorno “que sempre pareceu um mal exclusivo dos adultos, hoje em dia, afeta cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo”.
O que é depressão?
A depressão é um transtorno mental, caracterizado pelo sentimento de tristeza de forma persistente e/ou perda de interesse em atividades que antes eram apreciadas pela pessoa.
De forma geral, a doença se manifesta de maneira similar aos adultos. Entretanto, a criança não tem o mesmo entendimento do adulto em relação a suas emoções e sentimentos. Isso dificulta identificar um quadro depressivo.
Outro dificultador é que os pais, muitas vezes, consideram que certas atitudes e comportamentos fazem parte do processo de desenvolvimento, e na verdade podem ser sinais de que a saúde mental da criança não está bem.
“Diagnosticar depressão é mais difícil nas crianças, pois os sintomas podem ser confundidos com malcriação, pirraça ou birra, mau humor, tristeza e agressividade. O que diferencia a depressão das tristezas do dia a dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança”, avisa a Fiocruz.
Sinais de alerta
Como a criança, dependendo da idade, não consegue nomear os sentimentos, os adultos precisam estar atentos a alguns sinais de alerta. O principal deles é uma mudança de atitude ou comportamento que sempre foi usual.
Por exemplo: se ficou mais quieta, se perdeu o interesse por alguma atividade antes prazerosa, se ficou mais volúvel. “Suas emoções oscilam, tornando seu comportamento confuso”, destacou a estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental Tatiana Pimenta, no blog da plataforma de terapia online Vittude, da qual é fundadora e CEO.
É também pela dificuldade de falar sobre suas emoções que geralmente a criança somatiza os sintomas; ou seja, pode sentir dores, como de barriga, de cabeça etc.
As chamadas “birras” – quando a criança chora, grita, se joga no chão, esperneia – de forma exagerada também pode indicar depressão.
Sintomas
Os sintomas são variados e diferem de um paciente para outro. A criança, portanto, quando está sofrendo de depressão, pode:
- Ter dificuldades para dormir, acordar várias vezes durante a noite ou ter insônia. Mas também pode dormir demais, inclusive em horários em que antes era ativa.
- Comer em excesso ou, no oposto, perder o apetite.
- Sofrer ao se separar dos pais, seja para ficar na escola ou na casa de parentes, por exemplo, o que antes a criança até gostava.
- Começar a reclamar em demasia, a respeito da escola, dos colegas, das atividades ou tarefas, assim como de dores no corpo ou de possíveis machucados. “Até pequenos arranhões são razões para alarde”, avisa Tatiana.
- Ficar irritada com facilidade, até diante de situações que não deveria desencadear tal comportamento.
- Perder a vontade de fazer coisas que, antes, eram prazerosas, como brincar.
- Apresentar dificuldades de concentração, de memória ou de raciocínio. Em geral, reflete em queda de desempenho na escola e, muitas vezes, pode ser acompanhado por falta de participação da criança na aula e até de brigas com colegas e desrespeito ao professor.
A Fiocruz lista ainda outros possíveis sintomas, como sentimentos de desesperança, angústia, pessimismo, agressividade, tronco arqueado, isolamento, desatenção, baixa autoestima e sentimento de inferioridade, ideia de suicídio ou pensamento de tragédias ou de morte, cansaço frequente ou perda de energia, medos e aflições de abandono ou de rejeição.
No blog da Vittude, Tatiana afirma que cada faixa etária apresenta sintomas diferentes:
Até 2 anos: perda de peso, choro excessivo, problemas de desenvolvimento físico, como baixa estatura e atraso da fala.
De 2 a 6 anos: cansaço frequente, excesso de birra e enurese noturna (escape de urina enquanto dorme).
De 6 a 12 anos: os mesmos da faixa etária anterior, além de sentimentos de inferioridade e de incapacidade e até não se sentir amada.
Causas da depressão infantil
A depressão pode surgir sem causa aparente, mas algumas situações podem desencadear o transtorno. Entre eles, separação dos pais, mudança de escola ou de cidade, bullying, morte de um familiar, de um amigo ou de um animal de estimação.
Além disso, estudos apontam para predisposição genética, em que filhos de pais com depressão têm maior probabilidade de desenvolver a doença.
Outros fatores podem ainda funcionar como gatilhos para o surgimento da depressão infantil, conforme um estudo da Fiocruz, chamado “Depressão em Crianças – Uma reflexão sobre crescer em meio à violência”. São os estressores emocionais. Eles desencadeiam sentimentos de depreciações e rejeições na criança.
Segundo esse estudo, é muito prejudicial alguns tipos de relações para a criança, desde a postura de mãe superprotetora, controladora ou negligente, a frequentes brigas entre os pais na sua frente ou a chamada violência doméstica, e abusos físico, moral e/ou sexual contra a criança, inclusive em ambientes escolares.
Tratamentos
“Ao primeiro sinal de depressão, os pais devem acolher a criança e encaminhá-la a um profissional o mais rápido possível”, destaca a Fiocruz, em seu site. Tratá-la é importante, para evitar que outras doenças, como a anorexia e a bulimia, sejam desencadeadas. Há o risco ainda do quadro ser agravado na fase adulta.
O tratamento de uma criança com depressão, em geral, deve envolver também os pais e a escola. “Na maioria das vezes, o apoio da família e a psicoterapia são suficientes”, avisa a Fiocruz. Em alguns casos, medicamentos podem ser necessários, mas somente a partir dos 6 anos de idade, salienta a fundação.
A saúde mental das crianças não pode ser descuidada. Elas merecem atenção e carinho para crescerem, desenvolverem-se e se tornarem pessoas adultas saudáveis.
Diferente de um adulto, que tem capacidade e autonomia para procurar um especialista quando está sofrendo, nossos pequenos precisam que nós tomemos a iniciativa de buscar ajuda em prol de seu bem-estar.
Fontes:
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/deprssao-infantil.htm
http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_720672695.pdf