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Transtorno de insônia em pacientes com doença de Parkinson

Problemas relacionados ao sono fazem parte dos sintomas de muitos pacientes com Doença de Parkinson. Estima-se que 60% deles tenham dificuldades para dormir. 

Como sabemos, o sono é muito importante para qualquer pessoa. Noites mal dormidas impactam negativamente na restauração física e mental, na consolidação da memória e da cognição (processo para adquirir aprendizados ou conhecimentos), e até na prevenção de doenças.

A questão, aqui, qual é a relação entre a Doença de Parkinson e a qualidade do sono? 

Segundo o Dr. Erich Fonoff, médico neurocirurgião e especialista em Parkinson, são três os fatores principais que levam esses pacientes a dormirem mal e a terem sono pouco restaurador:

  1. A própria Doença de Parkinson. “A doença altera a forma como o sistema nervoso regula o sono, deixando-o pouco eficiente. Os tremores também podem despertar quem já está dormindo”, escreveu o Dr. Fonoff em seu blog.
  2. As mudanças psicológicas que ocorrem nos parkinsonianos. “Episódios de tristeza, preocupação e ansiedade e quadros de depressão são frequentemente relatados, o que compromete de forma significativa a qualidade do sono”, atesta o especialista.
  3. Alguns medicamentos. “Algumas drogas usadas para tratar o Parkinson são também estimulantes, tornando o sono intranquilo e insuficiente”, avisa o médico.

Entre os problemas relacionados ao sono, podemos dizer que a insônia é o mais perturbador. Ele é um distúrbio persistente que prejudica o processo de adormecer ou de permanecer dormindo enquanto deveria. 

Insônia e Parkinson

Em janeiro de 2020, foi publicado o estudo “Transtorno de insônia em pacientes com Doença de Parkinson”, no Journal of Geriatric Psychiatry and Neurology. O trabalho teve como objetivo determinar quais fatores eram mais relevantes para a ocorrência de insônia em pacientes atendidos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Um dos autores da pesquisa, o Dr. Manoel Alves Sobreira-Neto, neurologista, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), detalhou, em entrevista ao Medscape, alguns achados.

Um deles foi a latência aumentada do sono REM. De acordo com o Dr. Sobreira-Neto, isso significa que pacientes com Parkinson que sofrem de insônia demoram um pouco mais para entrar no estágio do sono REM (entenda melhor os estágios do sono no quadro ao lado).
Outro achado foi que a apneia obstrutiva do sono – distúrbio que causa breves interrupções da respiração enquanto se dorme, várias vezes durante a noite – é ausente nos pacientes com transtorno de insônia observados. 

“A apneia fragmenta o sono, o que piora sua qualidade e acaba contribuindo para uma pressão de sono maior. Na prática, isso pode significar que o indivíduo sente uma necessidade grande de dormir e, quando se deita, acaba dormindo com mais facilidade. Essa condição parece estar associada a uma menor frequência de insônia crônica”, explicou o Sobreira-Neto.

Por outro lado, o estudo identificou a associação entre o transtorno de insônia com a permanência prolongada na cama mesmo sem sentir sono. Quando se torna um hábito ficar deitado na cama realizando atividades como assistir TV, mexer no celular ou se alimentar, “o cérebro acaba fazendo uma associação equivocada entre a cama e essas outras atividades, e não com o sono”, disse o pesquisador. 

Assim, quando pessoas com esses hábitos vão para a cama, o cérebro não associa a cama ao sono, resultando em dificuldade para dormir. “É possível que pacientes com doença de Parkinson se deitem durante o dia devido à fadiga ocasionada pela doença, pela ociosidade e por outras questões comportamentais. Com isso, acabam passando boa parte do dia deitados sem estar dormindo”, completou o médico.

A pesquisa ainda comprovou, como já era esperado, que os participantes com transtorno de insônia tiveram qualidade de sono pior ao serem comparados com aqueles sem insônia crônica.

Sem indícios associativos

Algumas pesquisas científicas destacam outras associações no campo da Doença de Parkinson. Entretanto, elas não foram confirmadas no estudo do professor da UFC. Não foram encontrados, por exemplo, indícios de associação entre a depressão com insônia crônica de pacientes com Parkinson. Também não foram identificadas neste grupo relações da insônia com outros sintomas da Doença de Parkinson, como noctúria (necessidade de urinar frequentemente à noite), dores noturnas e transpiração excessiva. E nem houve correlação do transtorno com o consumo de bebidas à base de cafeína à noite. 

Não significa que esse estudo questione essas associações verificadas em outras pesquisas. Para o Dr. Sobreira-Neto, a ausência dessas associações pode ter a ver com algumas limitações do seu estudo, como o tamanho da amostra relativamente pequeno, o fato de a amostra ser muito específica e com alta gravidade clínica e por se tratar de pacientes atendidos em um ambulatório especializado de um hospital de alta complexidade.

Fontes:


https://portugues.medscape.com/verartigo/6504349

https://vidasaudavel.einstein.br/como-ter-uma-boa-noite-de-sono/#:~:text=O%20sono%20inicia%20a%20partir,de%2010%20a%2030%20minutos.

https://www.erichfonoff.com.br/como-dormir-bem-com-parkinson/#:~:text=Mais%20da%20metade%20dos%20pacientes,in%C3%BAmeras%20vezes%20durante%20a%20noite.

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